1. PADRE SOEIRA, SE APRESENTE, POR FAVOR.
Sou Padre André de Souza Soeira, pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição,em Sapeaçu. Estou como vigário forâneo para a forania 1, atuo na pastoral vocacional e sou assessor eclesiástico do Conselho Diocesano de Leigos.
2. CONTE UM POUCO DA SUA HISTÓRIA VOCACIONAL
A minha história vocacional tem seu início na catequese. Foi participando dos encontros de catequese que fui dando conta do chamado de Deus. Ouvindo os catequistas falarem sobre Deus e os seus mistérios, como também pelo testemunho de vida de muitos deles, comecei a pensar na vocação sacerdotal. Nasci em Saubara, uma das cidades da nossa diocese, um lugar onde se respirava a fé. Toda a nossa vida tinha a Igreja como centro. A religiosidade popular era muito forte. Recordo-me das trezenas de Santo Antônio na Igreja e nas casas; o mês mariano; a devoção a São Roque; o dia de São José; outras devoções particulares, e a festa de São Domingos, nosso amado padroeiro. Então nasci e cresci em um lugar de pessoas de fé. O testemunho dos sacerdotes também me ajudou bastante no meu despertar vocacional. Guardo na memória a alegria que sentia quando o padre visitava a escola. Essas visitas aconteciam sempre que se aproximava as celebrações importantes, como Páscoa, Corpus Christi, mês missionário, dentre outros. Sempre fui engajado na comunidade como catequista; participava de grupo de jovens, e ajudava nas celebrações. A participação no grupo vocacional da comunidade me ajudou bastante. Nos reuníamos para rezar, fazíamos retiros, momentos de adoração e reflexões. Existia uma preocupação das paróquias e dos párocos com as vocações. Dom Lucas dizia que cada padre deveria se esforçar para fazer outros padres, sucessores. Assim, existia uma preocupação dos padres com o pedido feito pelo arcebispo. Graças a Deus, encontrei bons padres no meu caminho vocacional, é claro que encontrei também muitos desafios durante a minha trajetória vocacional. Fiz os encontros no Seminário Propedêutico, em Salvador, e ingressei no dia 13 de fevereiro de 1995. Fui enviado pelo Padre Gustavo Adolfo Nunes da Silva, que, na época, era o meu pároco. Terminando o período de formação no seminário, fui ordenado padre no dia 17 de agosto de 2002, em Saubara, por Dom Geraldo Majella.
3. O SENHOR JÁ ASSUMIU ALGUMA FUNÇÃO NA FORMAÇÃO DE SEMINARISTAS ANTES DE ABRAÇAR ESTA MISSÃO NA DIOCESE DE CRUZ DAS ALMAS?
Sim, ainda como seminarista trabalhei na pastoral vocacional do Seminário Central. Tínhamos o clube Cura D’Ars, que mensalmente reunia os jovens vocacionados das diversas paróquias da Arquidiocese de Salvador, no seminário. Nos finais de semana, também ia sempre a uma paróquia motivar as equipes vocacionais, pois em muitas paróquias existia a pastoral vocacional; lembro a Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Mata Escura, como também São Gonçalo do Retiro. Chegando ao final do quarto ano de Teologia ingressei na equipe de formação. Comecei a participar das reuniões com os formadores e outros momentos formativos. Ao concluir a etapa formativa inicial fui para o Seminário Propedêutico, no Garcia, onde, com Pe. Josafá, hoje (Dom Josafá Menezes), fui formador do Propedêutico; foi um momento muito rico e bonito para mim, uma experiência singular. Acolher os jovens no seminário, ajudá-los no discernimento, ver esses jovens crescendo, dando os primeiros passos rumo a vida presbiteral, era algo que me dava muita alegria. Nesse mesmo período fui capelão da capela da Sagrada Família (Dorotéias) e coordenador da Pastoral Vocacional.
4. EM SUA OPINIÃO, QUAL O MAIOR DESAFIO QUE A IGREJA ENFRENTA ATUALMENTE NA FORMAÇÃO DOS FUTUROS PADRES?
No meu tempo de seminário falava-se muito sobre o novo milênio e como deveria ser o padre diocesano. Os documentos da Igreja já mencionavam a denominada mudança de época. Dom Walmor, que era o Bispo responsável pela formação, nos vários encontros conosco nos chamava a atenção de que o padre diocesano deveria ser um especialista em relacionamentos. Na época não entendia muito, mas hoje, depois de alguns anos de vida presbiteral, compreendo muito bem; percebo que formar especialista em relacionamentos ainda é um desafio para a formação sacerdotal, em um mundo cada vez mais individualista, intimista e egocêntrico; formar padres que sejam configurados a Cristo, sendo especialistas no relacionamento consigo, com os outros e com Deus.
5. COMO SÃO ARTICULADOS OS ENCONTROS VOCACIONAIS NA DIOCESE DE CRUZ DAS ALMAS?
Os encontros vocacionais acontecem em nossa Diocese, sempre de março a dezembro. Participam desses encontros jovens das paróquias, geralmente enviados pelos párocos ou outros agentes de pastoral.
6. EXISTE UMA PASTORAL VOCACIONAL ORGANIZADA NA DIOCESE DE CRUZ DAS ALMAS?
Ainda não. Temos os encontros vocacionais voltados para os jovens que desejam fazer o discernimento, para um futuro ingresso no seminário propedêutico, mas esses encontros deverão ser ampliados para a vida religiosa, comunidades de vida e outros, uma vez que toda a vida da Igreja é vocacional.
7. QUAL O CAMINHO QUE UM JOVEM INTERESSADO EM INGRESSAR NO SEMINÁRIO DEVE PERCORRER?
O caminho se inicia na família, onde o jovem nasce, cresce. Depois vem a comunidade paroquial, e esta o envia para os encontros e depois para o seminário. O solo onde as vocações brotam chama-se comunidade.
8. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DE UM JOVEM, QUE PRECISAM SER LEVADAS EM CONTA, PARA QUE O MESMO SEJA RECRUTADO AO SEMINÁRIO?
O seu engajamento na comunidade paroquial a qual ele pertence, uma vez que a comunidade é a grande geradora de vocações. Então o jovem deve amar a sua comunidade e ajudá-la na sua missão de evangelizar, estando envolvido nas pastorais e movimentos. Hoje existem outras realidades de jovens, que vêm de determinados movimentos ou comunidades de vida, sem um engajamento paroquial. É importante fazer um caminho de discernimento com esses jovens, mostrando o que é ser padre diocesano. Outra característica é a capacidade de relacionar-se de modo maduro com outras pessoas, sem nos esquecermos também da questão da identidade e do autoconhecimento.
9. FALE UM POUCO DA NECESSIDADE DA OVS NA DIOCESE DE CRUZ DAS ALMAS.
Quando o Papa Pio XII, através do Moto Próprio “Com Nobis” (1941), criou a OVS tinha em mente a promoção das vocações e a sustentação destas nos seminários. O Pontífice, ao criar esta obra, incentivou a Igreja inteira a ser promotora vocacional. Em 1947 pediu aos cardeais, arcebispos, bispos e os fiéis brasileiros que incentivassem a obra das vocações, para que não faltasse ao Brasil os seus pastores. Na nossa diocese de Cruz das Almas, a OVS foi instituída no terceiro domingo da quaresma, 24 de março de 2019, quando o nosso Bispo diocesano, Dom Tourinho, após a caminhada penitencial, apresentou aos fieis os seminaristas da Diocese e fez o lançamento desta obra. Falando sobre a necessidade de padres para a Diocese e dizendo que os fiéis leigos são os primeiros a serem beneficiados pelo ministério presbiteral, conclamou o povo de Deus a aderir a OVS. A nossa Diocese tem necessidade das vocações para que cumpra a sua tarefa de evangelização, sendo uma porção do Povo de Deus confiada ao nosso Bispo. Diante dessa necessidade de vocações, sobretudo as sacerdotais, a importância e o valor da OVS na nossa Diocese são relevantes. Nenhum fiel poderá ficar de fora desta grande obra.
10. QUEM PODE E COMO PARTICIPAR DA OVS?
Todos os fiéis podem e devem participar da OVS, uma vez que todos nós seremos beneficiados por ela. Somos membros uns dos outros, nos diz São Paulo (1 Cor 12). Daí a importância de criarmos uma cultura vocacional na nossa Diocese, para que rezemos pelas vocações e as incentivemos, não apenas em agosto, conforme o estabelecido pela CNBB desde o ano de 1981, mas durante todo o ano. Para participar da OVS o fiel deverá procurar a secretaria da sua paróquia, o pároco, a equipe da OVS paroquial, ou pessoas designadas pelo pároco para esse serviço.
11. POR FAVOR, DEIXE SUA MENSAGEM FINAL.
Peço a Deus que a nossa Diocese de Cruz das Almas seja um campo onde as vocações brotem a cada dia, e assim o povo não venha perecer por falta de pastores, de religiosos e de leigos comprometidos com o Reino. Que, no futuro, tenhamos uma cultura vocacional mais acentuada de modo que todos se sintam responsáveis pela obra das vocações sacerdotais. Quem forma o padre é a Igreja, quero dizer, o Povo de Deus.
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